O Papai Noel e os Bebês na Escola: Olhar da teoria Psicanalítica

Fiquei muito emocionada, em dezembro de 2019, ao ver a sequência de fotos que uma professora de um berçário, onde haviam crianças de 6 meses até 1 ano e meio. (Irei manter o sigilo da professora, escola e crianças, peço que ao lerem imaginem o cenário). Emocionada por observar teorias que estudamos de forma tão clara, através das fotos. Fotos sem Photoshop, sem montagem, fotos reais da chegada do Papai Noel e o comportamento dos bebês.
Gostaria de deixar minha contribuição, com esse comentário, às Escolas e a todos Educadores. Para a psicologia a infância é a base de tudo. Há muito já estamos vivenciando bebês saírem de casa junto com seus pais em suas jornadas de trabalho. O Bebê não vai trabalhar, pois ele ainda precisa ser muito cuidado para conseguir trabalhar, inclusive para conseguir ter um desenvolvimento cognitivo suficientemente bom e desenvolver-se adequadamente para ter um bom trabalho: é o que desejamos. Não trabalha, mas sai de seu lar, de seu ambiente familiar para passar, muitas vezes, mais de oito horas longe de casa e de seus familiares. Onde as crianças ficam? Com quem ficam? Ficam em seu lar substituto, com sua família substituta e com sua mãe substituta: Ou seja, a Escola. A Escola representada pela professora e auxiliares, realiza a maternagem, são responsáveis diretas por aquele período do dia em que a criança não está em sua casa.
Winnicot, pediatra e psicanalista desenvolveu a teoria da “Mãe Suficientemente Boa “. Onde ele descreve que o papel da mãe-maternagem seria atender as necessidades básicas do filho, vinculadas à saúde e às emoções. Para a mãe atender, precisa conhecer. Para conhecer, precisa estar presente. Para ser presente, precisa de tempo. Tempo com qualidade, com paciência. Paciência para conhecer seu filho, buscando decodificar as emoções do pequeninho, identificando as necessidades de acordo com o período de desenvolvimento do filho. Para que possa desenvolver a segurança tão necessária ao desenvolvimento normal. Muitas vezes esta tarefa é compartilhada com a Escola.
Bowlbi, psiquiatra e psicanalista desenvolveu a “ A Teoria do Apego”, onde refere três modelos: “ O primeiro destes modelos é o do apego seguro, onde o indivíduo está confiante de que seus pais ( ou figuras paternas ) estarão disponíveis oferecendo respostas e ajuda, caso ele se depare com alguma situação adversa ou amedrontadora. Essa segurança faz com que ele sinta coragem para explorar o mundo. O segundo modelo é o do apego resistente e ansioso, no qual o individuo se mostra incerto quanto a disponibilidade, à possibilidade de receber resposta ou mesmo ajuda por parte de seus pais, caso necessite. (…) tende a ansiedade de separação. Ao ficar “grudado” e ao ficar ansioso, quanto precisa explorar o mundo. Um terceiro modelo é o do apego ansioso com evitação, onde o indivíduo, não tem nenhuma confiança de que quando procurar cuidado terá resposta e ajuda, mas, ao contrário, espera ser rejeitado.
A chegada do Papai Noel na Escola, na sala de aula do Berçário 1 apresentada na fotografia com a professora, junto com suas duas auxiliares, no momento representam o quanto a Escola pode facilitar o desenvolvimento infantil de 11 bebês, ajudando os pais no desenvolvimento saudável deles.
Cenário:
Papai Noel trajado adequadamente à imagem comercial: senhor de barba braca, todo de vermelho, com cinturão e botas pretas, figura desconhecida da vida cotidiana dos bebês. Um desconhecido que gera sensação de receio x medo. A necessidade de ter pessoas de referência que acolham é urgente. A sensibilidade da professora em deixar as crianças em sua sala de aula (ambiente conhecido) , com roupas adequadas, limpas e sem fome (uma criança com fome chora, fica incomodada, com fraldas sujas também, com roupas fora da temperatura do momento desfavorece), sentadas no carrinho, uma sendo modelo de identificação da outra ( todas na mesma posição), com 3 mães substitutas a postos (que aparecem na foto) e com um Papai Noel que chegou e sentou ao se aproximar, assim ele também ficou na altura das crianças. A professora convidou ele para sentar. Ambiente cuidado e tendo todo o respeito com o ator principal e a plateia: O senhor Papai Noel e os Bebês do Berçário 1 .
Observamos pelas sequencia das fotografias as crianças olhando para o Papai Noel e também buscando a referência das educadoras. Observamos ainda, crianças sérias, muito adequado ao momento novo, como uma figura dos Contos de Fadas ao vivo. Crianças com a mão na boca, um menino chorando no inicio e acalmando-se quando a professora se aproxima, tudo muito adequado. Uma menina fica mais incomodada e novamente uma auxiliar vai e fica perto. Assim o grupo pode se sentir seguro e aproveitam admirando a visita do Papai Noel, sem o trauma que poderia ter ocorrido pelo Grande Homem desconhecido. Trauma que muitas vezes acompanham as crianças por muitos anos, o medo do Bom Velhinho: Papai Noel.
Ser professor vai além da formação escolar e acadêmica: é vocação, afeto no mais alto nível que ajudam a formar a base da personalidade do bebê, são os pais substitutos, fazem a maternagem e muitas vezes são as únicas referências adequadas que a criança tem. Não deveria ser, mas sabemos que é assim que funciona por uma série de carências que tantas famílias apresentam.
Gostaria de reforçar que cada estímulo adequado à faixa etária e condições psicossociais dos alunos propicia o desenvolvimento mais saudável. Os educadores podem ter certeza de que todas as vivências escolares ficarão gravadas na memória. Tenho pacientes que lembram de suas pré-escolas e outros que lembram as estórias que seus pais contavam do período escolar da infância. Algumas dessas estórias bonitas e outras negativas. Quanto mais adequado o trabalho do educador, mais saúde mental ele terá desenvolvido em seus alunos e mais gratidão o aluno e a família terão por tal envolvimento.
Quanto mais segura for a infância, menos ansiedade e ou tristeza observaremos no desenvolvimento do infante e assim sua evolução pessoal terá mais possibilidade de ocorrer da melhor forma possível com cada fase sendo respeitada, manejada e acompanhada.
Psicóloga Maria Alice Salles
CRP 07-07 266